O episódio #100 do Gigacast, com Henrique Dubugras, fundador da Brex, oferece insights valiosos sobre empreendedorismo, estratégias de negócios e como navegar no cenário atual dominado pela Inteligência Artificial. Dubugras compartilha lições aprendidas em sua jornada, desde a criação da Pagar.me até a Brex, destacando a importância de aproveitar as “ondas” de inovação e construir empresas com defensibilidade.
Este artigo explora detalhadamente as sacadas, técnicas e segredos discutidos no podcast, organizados para ajudar empreendedores a construir negócios de sucesso.
1. Aproveitando a Onda: A Importância do Timing
Henrique Dubugras compara a construção de uma empresa e a busca por riqueza a surfar: não importa o quanto você reme, se não houver onda, você não irá a lugar nenhum. A “onda” atual é a Inteligência Artificial (IA). Se você não está aproveitando essa onda, “está fazendo alguma coisa errada”, pois ela está acontecendo agora.
A IA está permitindo a automação de muitas tarefas que antes exigiam serviços humanos, expandindo mercados e tornando atividades economicamente inviáveis antes, agora possíveis. Por exemplo, tarefas de auditoria interna, que antes envolviam a verificação manual de amostras, podem agora ser feitas pela IA em 100% das transações, algo que antes seria economicamente inviável. Isso democratiza o acesso a ferramentas e habilidades que antes eram restritas a poucos.
É crucial se adaptar e aprender a ser mais produtivo com a IA, caso contrário, você corre o risco de ficar sem emprego. A IA não apenas automatiza o que já existe, mas também abre portas para novos modelos de negócios que antes não eram possíveis.
2. Como Acumular Patrimônio: Lições de Sucesso
Dubugras reflete sobre o sucesso de figuras como Jorge Paulo Lemann e seus próprios empreendimentos, destacando o papel da sorte e do timing, além do trabalho árduo.
- Surfando as Ondas Certas: Assim como Lemann aproveitou o início do mercado financeiro brasileiro com o Banco Garantia e, posteriormente, a onda de “leverage buyouts” (LBOs), Dubugras e seu sócio Pedro surfaram a abertura do sistema de pagamentos no Brasil com a Pagar.me. Posteriormente, com a Brex, eles se beneficiaram da ascensão das fintechs nos EUA.
- Momento Certo: Iniciar um negócio no momento certo é crucial. A Pagar.me, por exemplo, não teria tido sucesso se tivesse começado alguns anos antes ou depois, devido às mudanças regulatórias e de mercado.
- Visão Ampla e Adaptabilidade: É fundamental ter uma visão grande para o negócio desde o começo, pois isso inspira investidores e funcionários, facilitando o recrutamento. No entanto, essa visão deve ser adaptável. No início da Pagar.me, eles pivotaram sua abordagem de APIs para focar na conversão de vendas para clientes, e depois para o nicho de marketplaces que precisavam de “split de pagamento”. Essa capacidade de observar o que está acontecendo e mudar de direção (pivotar) é essencial para o sucesso.
3. Concorrência e Defensibilidade: Os Sete Poderes
Ignorar a concorrência é um erro, pois o cliente sempre a considera. É preciso entender por que o cliente escolheria você e qual é o seu diferencial. O livro “Seven Powers of Business Strategy” apresenta sete poderes que podem criar defensibilidade em um negócio. Dubugras menciona alguns deles:
- Scale Benefits (Benefícios de Escala): Quanto maior a empresa, mais difícil é para um concorrente competir. Empresas como Mercado Livre e Amazon conseguem negociar melhores preços com fornecedores e otimizar a distribuição, resultando em produtos mais baratos e entregas mais rápidas, o que atrai mais clientes e dificulta a entrada de novos concorrentes.
- Network Effects (Efeitos de Rede): Quanto mais pessoas usam um produto ou serviço, mais valioso ele se torna para cada usuário. O Instagram é um exemplo claro: você está lá porque seus amigos estão lá, e é difícil criar uma nova rede para competir.
- Brand Power (Poder da Marca): É quando um cliente decide pagar mais por um produto idêntico apenas por causa da marca. A Tiffany é um exemplo, onde diamantes, que são commodities, são vendidos a preços mais altos devido à marca. No entanto, construir uma marca forte leva tempo, geralmente mais de 10 anos. A American Express é um exemplo de poder de marca em serviços financeiros.
- Switching Costs (Custos de Troca): São os custos, reais ou percebidos, que um cliente teria para mudar para um concorrente. A SAP é um exemplo: mesmo que um concorrente ofereça um produto 10 vezes melhor, o custo de migração para o cliente pode ser tão alto que a troca se torna inviável. Para empresas com altos custos de troca, ser o primeiro a conquistar o cliente é crucial.
- Process (Processo): Refere-se a processos internos tão complexos e eficientes que são impossíveis de serem replicados por concorrentes, como o Toyota Production System.
- Cornered Resources (Recursos Exclusivos): Ter o domínio de um recurso escasso, como pessoas altamente qualificadas ou acesso exclusivo a minérios, como no caso da Pixar com animadores 3D ou de empresas com minas de nióbio. A Nvidia, por exemplo, tem uma vantagem competitiva com seu hardware CUDA, essencial para o desenvolvimento de IA, e seu acesso preferencial à TSMC para a fabricação de chips.
- Counter Positioning (Contra-Posicionamento): Criar um negócio cuja cópia seria prejudicial para o concorrente já estabelecido. O Robinhood, por exemplo, ofereceu negociação de ações gratuita, algo que os grandes bancos não podiam copiar sem perder uma parte significativa de sua receita.
4. Risco e Pivotagem: Não se Apaixone pela Sua Ideia
É muito difícil saber qual ideia dará certo. Empreendedores como Max Levchin (PayPal) e o próprio Elon Musk não sabiam se suas primeiras ideias teriam sucesso, o que os levou a pivotar ou investir em diferentes empreendimentos. O trabalho do fundador é observar e aprender continuamente, e pivotar quando necessário. “A pior coisa do mundo é ficar insistindo no negócio que não tá dando certo”.
É importante não ter um “ego” que o impeça de pivotar. Os melhores empreendedores erram suas ideias o tempo todo. A Amazon, por exemplo, incentiva a experimentação e aceita que muitas ideias darão errado para que algumas deem certo.
5. Visão e Recrutamento: A Importância de Inspirar
Ter uma visão grande e inspiradora desde o início é crucial para atrair investidores e talentos, facilitando o recrutamento. Essa visão, no entanto, deve vir acompanhada de um plano concreto de como alcançá-la. Um plano bem estruturado, mesmo que mude, gera confiança.
Ao recrutar, especialmente no início, é melhor ter um time pequeno e ágil, focado em validar se o negócio realmente funcionará. Não se deve contratar “gestores” que não colocam a mão na massa no começo. Buscar “early employees” (primeiros funcionários) de empresas de sucesso que sabem “fazer” e têm experiência em construir do zero é uma ótima estratégia.
É fundamental que haja um “ditador benevolente” (benevolent dictator), uma pessoa com uma visão clara que toma as decisões finais, evitando a paralisia por consenso em um time de cofundadores.
6. Modelos de Investimento: Entendendo o Venture Capital
É importante levantar investimento apenas se você acredita que sua empresa pode eventualmente fazer um IPO (Oferta Pública Inicial) e se tornar uma empresa de grande porte. O modelo de investimento de Venture Capital (VC) é baseado na crença de que poucas empresas em um portfólio de 30 (ou mais) darão “muito certo” (gerando um IPO), enquanto a maioria falirá ou terá um sucesso moderado.
Investidores de VC buscam empresas com o potencial de gerar retornos de centenas de milhões ou bilhões de dólares. Se sua empresa não tem esse potencial, levantar capital de VC pode ser prejudicial, pois o investidor pode pressioná-lo a crescer de forma insustentável. Em vez disso, uma empresa que gera lucros consistentes de, por exemplo, R$ 2 milhões por mês, pode ser um ótimo negócio para os fundadores, mesmo que não seja atraente para um VC.
7. Contratação e Cultura: Mercenários vs. Missionários
Uma empresa que paga salários altos e oferece grandes percentuais de participação acionária (equity) atrai talentos brilhantes e espertos. No entanto, essa estratégia também pode atrair “mercenários”, pessoas que buscam apenas o dinheiro e não a missão da empresa. Em 2021, com a valorização excessiva de empresas de tecnologia, os “compensations” ficaram tão altos que muitas pessoas se juntaram a empresas por dinheiro, e não por alinhamento com a missão.
Para garantir que a equipe seja composta por “missionários”, a empresa deve criar um sistema onde o desejo de trabalhar ali seja a principal motivação, mesmo que isso signifique salários iniciais mais baixos em troca de maior participação acionária. Isso filtra aqueles que não estão verdadeiramente alinhados com a missão.
8. Honestidade Intelectual: O Chat GPT como Parceiro
É crucial manter a honestidade intelectual e não se apaixonar excessivamente por suas próprias ideias. Muitas vezes, uma ideia pode parecer boa na teoria, mas não se sustenta na prática.
Para evitar a “cegueira” por suas próprias ideias, Dubugras sugere usar o ChatGPT como um parceiro para contra-argumentar e testar a robustez de suas ideias. O ChatGPT, sendo uma ferramenta secreta e com vasto conhecimento, pode apresentar os pontos fracos da sua ideia sem gerar insegurança na sua equipe ou investidores. Ele pode ajudar a aprimorar a visão e torná-la mais concreta.
Conclusão
A jornada empreendedora é complexa, mas com as estratégias certas, é possível construir negócios bilionários. Aproveitar as ondas de inovação, como a IA, focar na defensibilidade por meio dos “sete poderes”, ter a coragem de pivotar quando necessário, atrair talentos alinhados com a missão e manter a honestidade intelectual para testar suas ideias são pilares fundamentais para o sucesso.
Gostou? Preparamos um playbook completo para aplicar os ensinamentos do episódio aqui
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